As Neurociências no Treinamento de Hipismo

Nós utilizamos nossos sentidos para obter informações a respeito do mundo que nos rodeia, e também a respeito do nosso próprio corpo, ou seja, nossa propriocepção. Em grande parte das situações, o cérebro humano utiliza a informação visual para guiar as escolhas. Isso quer dizer que nós baseamos muitas das nossas decisões no que vemos.

Se nossos sentidos (em especial a visão) são tão importantes para as nossas decisões, como melhorar a forma como percebemos o ambiente?

Existem algumas ferramentas que geram demandas para o nosso cérebro e, por consequência, treinam a nossa cognição. Um exemplo de ferramenta são os óculos que bloqueiam o campo de visão inferior e auxiliam os atletas a treinar a utilização de outras informações sensoriais, principalmente ligadas à propriocepção.

O foco da visão no hipismo deve estar voltado para a pista. Seja para onde o cavaleiro quer ir, seja para o próximo salto, ou para a próxima curva. No entanto, muitos cavaleiros têm o mau hábito de olhar para o chão ou para o cavalo. Este hábito pode resultar em um traçado inadequado após o salto. Ainda, o hábito de olhar para baixo durante o percurso pode atrapalhar sua posição sobre o cavalo e consequentemente todo o equilíbrio do conjunto.

No hipismo, o bloqueio do campo visual inferior faz com que o cavaleiro e a amazona sejam obrigados a treinar principalmente a propriocepção. Dessa forma, eles passam a perceber melhor o contato das mãos com as rédeas, o contato das pernas e pés com a sela e, por meio dessas informações, eles percebem melhor como o cavalo está reagindo aos seus movimentos, sua postura e seu equilíbrio.

Fotos: reprodução Instagram – @virginiaperezferres; @patriciajfr; @dr.pedrogranado

Neste processo, o cavaleiro e a amazona utilizam uma classe de neurônios chamados neurônios espelho. Esses neurônios ficam muito ativos quando observamos os movimentos de outras pessoas, e também quando imaginamos nossos próprios movimentos.

Com a diminuição da informação visual proporcionada pelos óculos, e ao prestar mais atenção aos próprios movimentos, os atletas têm a oportunidade de corrigir e aprimorar sua postura, sua comunicação com o cavalo e sua capacidade de obter outras informações além da visual. O objetivo deste treinamento é fazer com que a propriocepção seja aperfeiçoada para que seja utilizada com maior eficiência e frequência quando o atleta possuir informação visual completa.

Ao mesmo tempo, o cavaleiro e a amazona poderão treinar uma técnica chamada “quiet eye” (trad: olhar quieto ou olhar fixo). Nela, o atleta treina manter o olhar fixo em um local específico do ambiente e utilizar a visão periférica para adquirir as informações que ele conseguiria mudando o olhar para diversos locais. A ideia é fazer uso do tempo e dos recursos cerebrais que seriam utilizados nesses movimentos oculares para processar com maior eficiência os planos das ações que ele executará em um futuro próximo. O olhar fixo é uma característica de atletas experientes em várias modalidades esportivas, e também pode ser treinado com os óculos que bloqueiam o campo visual inferior.

Esta nova abordagem vem sendo adotada com muito sucesso a partir da parceria entre a Sensorial Sports e o experiente cavaleiro Bruno Pessanha (Pessanha Team – @brunocpessanha). “Esta é uma técnica que está trazendo excelentes resultados tanto no desenvolvimento dos novos cavaleiros como no aprimoramento de profissionais experientes”, diz Pessanha. “A incorporação do conhecimento neurocientífico nas rotinas de treinamento representa um grande diferencial na preparação dos atletas do Hipismo o que pode gerar melhores resultados para os competidores”- completa o cavaleiro.

No dia 15 de fevereiro de 2019, Sensorial Sports e Pessanha Team deram mais um passo para transformar a neurociência indispensável para o hipismo. Durante a Clínica de Salto no Centro Hípico Prata, em Bauru, foram apresentadas formas de avaliação e treinamentos cognitivos para aprimorar a performance no hipismo.