Acompanhamento e Desenvolvimento Cognitivo +50 [investigação científica]

Nossa rotina é cheia de tomadas-de-decisões. Com 8 ou 80 anos, nós decidimos milhares de vezes ao dia.

 

Ao contrário do que acreditava-se no século passado, as decisões não são tomadas por áreas presentes no córtex frontal. Ao invés disso, inúmeras áreas distribuídas por todo o sistema nervoso central (como áreas sub-corticais, associativas e cerebelares) trocam informações com as áreas do córtex frontal para selecionar a melhor decisão entre as opções disponíveis.
Dessa forma, diferentes áreas calculam os ganhos e perdas de cada opção disponível; os custos (por exemplo, de esforço físico) de cada opção de ação; as probabilidades de acerto e erro; além de levar em conta as regras às quais as ações estão sujeitas. Tudo isso para entrarem em um consenso sobre a melhor escolha possível.
Todo esse processamento exige flexibilidade cognitiva, assim como precisão e velocidade, mesmo para atividades cotidianas. Uma vez que nossas capacidades cognitivas começam a declinar a partir dos 40 anos, monitorar e treinar o desempenho cerebral é muito importante para definir nossa capacidade de fazer decisões saudáveis no dia-a-dia.

Entendendo a importância desse acompanhamento e desenvolvimento cognitivo, nós realizamos uma investigação científica com 10 pessoas acima de 55 anos. Nós avaliamos a performance cognitiva de todas elas, cinco delas participaram dos nossos treinamentos cognitivos em realidade virtual, e as outras cinco não participaram de nenhuma atividade específica com a gente.
Após 10 sessões de treinamento cognitivo aplicado em cerca de 5 semanas, nós repetimos as avaliações e colhemos depoimentos dos participantes.

Os resultados mostram que as pessoas que participaram dos nossos treinamentos cognitivos apresentaram ganhos em diferentes capacidades cognitivas: 17% na qualidade da reação, 5% na tomada de decisão, 14% no controle da impulsividade e 12% na atenção. O uso da visão periférica não apresentou variação.

 

 

Importante, as pessoas com mais do que 55 anos que passaram por nossos treinamentos cognitivos tiveram ganhos cognitivos também em relação aos participantes que foram apenas avaliados: 24% na reação, 7,5% na tomada de decisão, 9% na atenção, 11% no controle da impulsividade e 4% no uso da visão periférica.

 

 

Dessa forma, essa investigação sugere que o treinamento cognitivo de pessoas com mais do que 55 anos é capaz de melhorar capacidades cognitivas muito importantes para suas rotinas, e pode ser aplicado para a melhora da qualidade de vida dessas pessoas. Em especial, nós tivemos um resultado muito interessante: ao mesmo tempo em que o processamento cerebral ficou mais rápido (melhora de 17% na qualidade das reações), o controle executivo também foi aprimorado (14% no controle da impulsividade), indicando, juntamente com as melhoras na atenção e tomada de decisão, que o processamento cognitivo como um todo ficou mais flexível, preciso e veloz.

A participante Dolores Martins Joaquim, que é advogada e tem 68 anos, teve uma melhora incrível e conseguiu desenvolver suas capacidades cerebrais a níveis de atletas de alto-rendimento.

 

 

“Pra mim foi um desafio, um aprendizado muito grande e vou recomendar pra qualquer pessoa que faça, independente de ser atleta, independente de ser fitness (…) eu acho que é uma oportunidade que você tem pra se desenvolver via sua capacidade intelectual e mental.”

Dolores nos contou um exemplo sobre como o treinamento cognitivo mudou a qualidade de vida dela: “Um estudante, talvez atrasado, apressado ou talvez desatento (…), virou [o carro] com tudo em cima de mim. Àquela hora eu tive um reflexo, eu atribuí muito à atenção que ganhei aqui. Eu acho que fiquei mais atenta. Eu sempre fui meio desligada, né? Eu acho que meu equilíbrio, a minha percepção deu uma melhorada boa. (…) Acho que não bati mesmo porque meu reflexo foi assim [Dolores estala os dedos], estou mais atenta.”

 

Depois de ouvir o depoimento da Dolores, ficamos com um sentimento de tarefa cumprida. Mas ainda temos muito o que fazer para acompanhar outros milhões de pessoas que podem, não somente evitar o declínio cognitivo que vem com a idade, mas expandir e dar confiança às pessoas com mais de 55 anos.

 

Trabalho realizado por Vitor Prado Lavanholi e Leticia Campos Gumiero e supervisionado por Victor Cavallari e Caio Moreira.