O tema “recuperação de fadiga mental/cognitiva” é pouquíssimo estudado de forma sistematizada.
No entanto, um grupo de pesquisadores da Alemanha e Austrália resolveram fazer uma revisão sobre os artigos já publicados sobre o assunto, e publicado na revista Performance Enhancement & Health:
Resting the mind – A novel topic with scarce insights. Considering potential mental recovery strategies for short rest periods in sports.
Fabian Locha, Alexander Ferrauti, Tim Meyer, Mark Pfeiffer e Michael Kellmanna
Esta revisão identificou quase 15 mil resultados de pesquisas por trabalhos científicos que abordam o assunto, mas apenas 2 se mostraram relevantes.
A fadiga mental é definida como um estado psicológico ocasionado por longos períodos de atividades com demanda cognitiva e pode comprometer a atenção/concentração, o controle cognitivo e o monitoramento das ações.
Ou seja, um atleta fadigado mentalmente diminui drasticamente de performance.
Isso ocorre em diferentes domínios: resistência, potência, habilidades motoras, tomada de decisão, velocidade, precisão e busca visual. Ou seja, compromete inúmeros aspectos essenciais para o atleta.
Para a recuperação da fadiga mental, é necessário descansar a mente (rest the mind) utilizando técnicas como auto-regulação cognitiva, ativação de recursos e técnicas de relaxamento
Algumas técnicas de recuperação de fadiga fisiológica são bastante conhecidas, como as banheiras de gelo. Mas, de acordo com a revisão, poucos atletas e profissionais do esporte têm conhecimento de técnicas de recuperação de fadiga mental/cognitiva.
Vamos enumerar as principais:
1. Técnicas de respiração: Considerada fundamentais e naturais, as técnicas de respiração englobam: yoga, meditação, e respiração controlada (pranayama). No youtube vocês encontram várias formas de executar o pranayamam, que podem ser aplicadas em por cerca de 25 minutos para alcançar resultados.
2. Visualização: Ocorre quando o indivíduo cria uma realidade sem os estímulos estarem realmente presentes. Atletas como Pelé são famosos por realizar técnicas de visualização antes dos jogos, e o nadador Phelps por realizá-las a partir de 6 semanas antes da competição. Essas técnicas são muito eficazes para diminuir a ansiedade e aumentar a concentração, e podem incluir imagens que contêm desde a pessoa em um lugar muito relaxante, até a pessoa se sentindo tranquila durante a competição.
No caso do Phelps, os exercícios de visualização incluíam a execução da prova, sendo que seu treinador diz durante palestras que Phelps acertou, em alguns casos, o tempo da prova que faria em centésimos de segundo.
3. Sono: Essa é ainda mais natural e fundamental, sendo considerada básica para a recuperação das fadigas física e mental. Dessa forma, é super importante acompanhar o sono dos atletas, ensinando-os a monitorá-lo e ter consciência da sua importância para a performance física e cognitiva.
Sonecas durante o dia também são importantes para muitos atletas, e podem ser incentivadas.
4. Debriefing: Pode ser traduzido como uma reunião de balanço entre atleta e seu técnico, psicólogo, preparador e/ou outro profissional do esporte que o acompanha. O debriefing é utilizado principalmente para reorientação e reconstrução do foco, tirando o peso ruim de erros ocorridos durante a competição. Esta técnica também promove um ambiente positivo para a construção de cenários futuros de competição e treinamento.
5. Desapego mental: Pode ser definido como um distanciamento fisico e mental do trabalho. Por exemplo, atletas podem parar de pensar em coisas associadas ao esporte, e pensar em outras esferas de suas vidas.
Música e cafeína completam a lista.
6. Música: a música pode ser utilizada tanto como uma ativação pré-performance, quanto como uma forma de recuperação mental após tarefas estressantes. Nestes casos, músicas mais lentas e tranquilas são mais eficientes.
7. Cafeína: a cafeína é um antagonista da adenosina, diminuindo, portanto, a excitação neuronal e consequentemente os impactos negativos do desgaste mental sobre as performances física e cognitiva.
Ao ler sobre essas técnicas de recuperação de fadiga mental/cognitiva, você pode chegar ã conclusão de que nenhuma delas lhe parece extremamente nova. Mas o que a revisão mostra como novo é a necessidade de criação de protocolos específicos e validados.
Por exemplo, atletas e profissionais do esporte normalmente sabem que o sono é essencial para a performance, mas mesmo assim não possuem um protocolo claro de monitoramento da qualidade do sono.
Sendo assim, fica o convite para que vocês criem rotinas de aplicação dos “recuperadores cognitivos” citados no texto. Caso tenham sucesso ou insucesso e queiram compartilhar a experiência com a gente, estamos totalmente à disposição.
escrito por Caio Moreira
Doutor em Comportamento e Cognição pela Universidade de Göttingen (Alemanha)
Diretor Científico da Sensorial Sports