Avaliar as próprias decisões é essencial para atingir alta performance em diversas atividades.
Imagine-se em uma quadra de voleibol. A bola é recebida pelo líbero, que a passa para o levantador. Este percebe que você está mais livre do que o atacante do lado oposto da rede e faz o levantamento para você com a bola percorrendo uma parábola perfeita.
Apesar do ótimo levantamento, você tem um bloqueio duplo à sua frente. Chega o momento da decisão. Paralela, diagonal ou explorando o bloqueio!? Você define a ação e a executa. Apesar das múltiplas opções que antecedem o momento da escolha, toda jogada tem apenas um desfecho: ponto a favor ou ponto contra.
O tema deste post é o que ocorre após esse desfecho, já que após nossas decisões (e mesmo durante elas) nós podemos iniciar um processo que avalia:
Eu decidi corretamente? Eu poderia ter decidido melhor?
As ciências do cérebro têm mostrado que, tanto no esporte como em muitas outras atividades, a capacidade de avaliar as próprias decisões pode definir quem atinge e quem não atinge alta performance (Referência 1).
Mas é claro que não é somente suas capacidades metacognitivas (ou seja, sua capacidade de avaliar as próprias ações) que definem se você é ou será bom no que faz; isso porque acessar essas informações só é útil se você puder utilizá-las de forma efetiva. Por exemplo, só é útil você identificar que cometeu um erro, se souber gerenciar esse erro para agir de forma mais eficiente da próxima vez.
Vê-se a partir disso que a metacognição é influenciada por outras características psicológicas como disposição ao risco, aversão à perda e excesso de confiança. Pensando por este lado, dá pra se ter uma ideia de que a metacognição não é importante somente para o esporte, mas também para a vida profissional.
Em entrevista recente à revista Exame, o sócio da EXEC (consultoria de recrutamento voltada ao alto escalão) Carlos Eduardo Altona disse que a disposição ao risco – característica que é fundamental em grandes feitos de carreira – é também avaliada no contexto da tomada de decisão. De acordo com Altona, os recrutadores querem entender a lógica por trás do risco assumido e os retornos objetivos alcançados a partir dele (Referência 2). Ou seja, características metacognitivas e da personalidade dos indivíduos impactam diretamente seus ganhos e perdas (Referência 3), e consequentemente os ganhos e perdas das empresas para as quais eles trabalham.
Sendo assim, além de essencial para o esporte, acessar seu próprio comportamento é essencial para outras atividades. É por meio da metacognição que identificamos se estamos aprendendo bem uma nova atividade, se está valendo a pena se comprometer com um curso ou treinamento que dura alguns meses ou anos, se estamos prontos para competir com outras pessoas por posições melhores e se estamos ansiosos demais ou tranquilos demais nos momentos que antecedem as diversas competições que enfrentamos dia-a-dia.
A metacognição não é o fator principal para o sucesso em atividades mecânicas e automatizadas. Mas é imprescindível para tomadas de decisão baseadas em informações complexas e ambíguas presentes na rotina de profissionais que ocupam cargos que exigem decisões constantes. Seja um atleta profissional, um empresário ou um diretor executivo.
Você saberia dizer qual é a sua capacidade de avaliar as próprias decisões e utilizar essa informação para agir de forma mais efetiva em uma próxima oportunidade?
Bom, vou deixar você fazendo essa importante reflexão…
Referência 1: MacIntyre et al. (2014). Metacognition and action: a new pathway to understanding social and cognitive aspects of expertise in sport.
Referência 2: https://exame.abril.com.br/carreira/crise-deu-rasteira-no-salario-de-executivos-mas-ha-uma-boa-nova/
Referência 3. Moreira (2016). Certain behaviors: Response selection and certainty-related processing in humans and rhesus monkeys. Chapter One. PhD. thesis. University of Goettingen, Germany.