Controle emocional e performance cognitiva no tênis

Se você pratica esportes, deve ter percebido que seu estado emocional pode atrapalhar ou ajudar seu desempenho durante uma disputa. Isso fica ainda mais claro em esportes individuais, em que o desempenho na quadra ou no campo depende apenas de uma pessoa: você. Aspectos pessoais (autoconfiança e ativação, por exemplo) e contextuais (como nível do adversário e local da competição) atuam sobre o atleta e influenciam suas respostas emocionais e seu comportamento. Assim, saber balancear essas forças pode influenciar bastante seu resultado.

Esse caso fica bastante evidente no tênis, uma modalidade em que as partidas envolvem muitas mudanças rápidas: uma quebra de saque pode mudar o rumo do jogo ou um erro no tie-break pode sacramentar uma derrota. Roger Federer exemplifica como que evitar uma quebra de saque, pode lhe trazer de volta ao jogo. Assista:







No tênis, todo jogo é decisivo: uma derrota e adeus ao título. O ritmo da partida também pode contribuir para intensificar as emoções do jogador, seja favorecendo aspectos positivos ou reforçando negativos. Como em muitos casos a performance física e técnica de grande parte dos competidores é semelhante, para vencer é preciso superar o adversário em outros aspectos: o cognitivo e o emocional.

O estresse, a ansiedade e a ativação física exageradas podem influenciar o desempenho por provocar tensão muscular e atrapalhar a execução motora. A preocupação excessiva pode atrapalhar também a atenção e a percepção de estímulos relevantes na velocidade exigida pelo tênis. Por outro lado, euforia e relaxamento demais podem atrapalhar por não provocarem ativação física e cognitiva o suficiente para um bom desempenho em quadra, potencialmente prejudicando a velocidade de processamento de informações e o raciocínio.O que torna isso ainda mais relevante, é que seu adversário consegue identificar esses momentos de variação e se aproveitar disso. É preciso, então, saber controlar e dosar as emoções de forma adequada para ter um bom desempenho¹.

Essa regulação emocional pode melhorar diversos aspectos. De acordo com pesquisadores da Aristotle University of Thessaloniki, na Grécia, o treino cognitivo de habilidades como concentração, mentalização, estabelecimento de metas, pensamento positivo, conversa interna, e técnicas de regulação de ativação, melhorou a performance percebida dos tenistas, que também tiveram a autoconfiança melhorada. Estes atletas também passaram a perceber os sinais de ansiedade como facilitadores para o desempenho, ao invés de debilitantes².

Outra pesquisa feita no Reino Unido mostrou que, sob condições de alta ansiedade, tenistas experientes têm dificuldades de usar informações contextuais para antecipar as jogadas dos seus adversários. Além disso, o estudo mostrou que nessas situações produtoras de ansiedade, os atletas tiveram que destinar mais esforços mentais para manter o mesmo nível de desempenho³.

O treinamento de habilidades cognitivas como atenção, tomada de decisão, uso da visão periférica e controle da impulsividade pode tornar o atleta mais apto a alocar tais recursos mentais em momentos de grande ansiedade, de forma a garantir um bom desempenho. Esse treino pode também diminuir a dificuldade observada nos atletas em usar as informações do ambiente para tomar decisões durante as jogadas. Com habilidades cognitivas bem desenvolvidas, mesmo com a ansiedade e outras emoções em alta, o atleta é capaz de manter o foco na partida e executar boas jogadas, um diferencial importante em qualquer nível competitivo.

Confira novamente o exemplo do Federer: contra o Nadal, se sofresse uma quebra poderia entrar em grande desvantagem; contra o Del Potro, poderia perder a partida. Mesmo nessas situações de grande importância, ele consegue fazer 3 aces seguidos, concentrando seus recursos cognitivos e físicos nesses momentos de maior tensão.

Outro benefício que um treinamento cognitivo bem direcionado pode oferecer é o aprimoramento da capacidade de perceber e identificar as emoções que surgem durante o jogo, e reconhecer os efeitos que elas podem ter na performance. Essa capacidade é fundamental para gerenciar os erros, uma vez que eles podem provocar emoções e sensações capazes de prejudicar bastante o desempenho, desviando a atenção e atrapalhando as tomadas de decisão. Conhecendo melhor esse funcionamento, é mais fácil controlar os estímulos internos e manter um bom nível de rendimento.

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Texto:

1- Bianca Campanini: Estudante de Psicologia (FFCLRP USP) e estagiária na Sensorial Sports;

2- Victor Cavallari Souza: Psicólogo especialista em Psicologia do Esporte, Mestre e Doutorando em Psicobiologia (FFCLRP – USP).

 

Referências:

¹Weinberg, R. S., & Gould, D. (2016).  Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. Artmed editora.

²Mamassis, G., & Doganis, G. (2004). The effects of a mental training program on juniors pre-competitive anxiety, self-confidence, and tennis performance. Journal of Applied Sport Psychology, 16(2), 118-137.

³Cocks, A. J., Jackson, R. C., Bishop, D. T., & Williams, A. M. (2016). Anxiety, anticipation and contextual information: A test of attentional control theory. Cognition and Emotion, 30(6), 1037-1048.

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